Viabilizar o semiárido é um desses desafios brasileiros neste momento em que o mundo passa por uma das suas maiores crises financeiras, causada pela especulação e não pela produção.

Embora em condições de alto risco a economia do semiárido brasileiro, ainda, é embasada na agropecuária. O sertão não virou mar, mas produz a comida de quem vive na beira do mar. Enquanto os litorâneos chamam de tempo bom e torcem pelo sol brilhante o produtor sertanejo trabalha, para abastecer o litoral, sob o sol causticante.

A imagem distorcida, talvez proposital, de um semiárido inviável não é verdadeira. Esta nossa região é o semiárido mais chuvoso do planeta. O maior problema não é a falta, é a irregularidade das chuvas.

É impossível combater a seca. O possível é a prevenção, a convivência com o fenômeno cíclico, natural e inevitável da estiagem. Daí é que precisamos, também, tornar perenes as providências legais para as previdências cabíveis.

Vale estimular, providências legais, um programa de cooperação e parceria em todas as instâncias da administração pública – união, estado e municípios – para uma difusão e aplicação das tecnologias adequadas e/ou adaptadas ao clima e ao solo da caatinga, estabelecendo ações efetivas, lógicas, permanentes e alinhadas ao processo veloz de desenvolvimento pelo conhecimento, as previdências cabíveis.

A conjuntura atual de um maior vigor no mercado interno e de um visível dinamismo na economia nordestina mostra que a hora é agora para um choque de inovação, adequando os sistemas produtivos à realidade do semiárido, com o objetivo maior de vencer o atraso para garantir o progresso.

Muito já foi pesquisado sobre a região e repousa nas estantes ou nas memórias e discos rígidos dos computadores das instituições de ensino e pesquisa. Inventariar esse patrimônio de conhecimento visando à promoção do desenvolvimento socioeconômico sustentável, produzindo riqueza, reduzindo a pobreza e preservando a natureza é mais do que necessário é fundamental.

Não é preciso que se reinvente a roda. O caminho progressista passa por uma extensão rural e tecnológica. Atividades dinâmicas e objetivas fomentariam, e disseminariam as melhores práticas geradas pela pesquisa científica, observados os saberes e vocações regionais.

A melhoria do nível de educação, facilitando a capacitação, aliada a uma saúde pública eficiente e uma infraestrutura urbano-rural moderna contribuiriam para o aumento da qualidade de vida da população sertaneja, condição indispensável para o desenvolvimento sustentável.

Produzir e preservar. As diversas técnicas de manejo agroflorestal pesquisadas mas,ainda, não disseminadas são caminhos para evitar a degradação. Atitudes lógicas devem ser respostas às discussões ideológicas. Para evitar a desertificação não basta o discurso é preciso a ação. O manejo adequado do solo e uma política permanente de utilização racional dos recursos hídricos é uma estratégia para uma convivência inteligente com a inevitável seca.

Não basta apenas preservar o umbuzeiro, é preciso, também, produzir, colher os frutos e ganhar o suado dinheiro. O bioma caatinga pede e permite um manejo integrado das espécies vegetais, nativas e/ou adaptadas, com a pecuária bovina ou ovinocaprina, em seus diversos níveis e portes. Existem lugares para todos. Protege-se a diversidade com o progresso racional da sociedade.

A interiorização do desenvolvimento com uma mudança do desenho do mapa geoeconômico, ainda no modelo colonial, de uma indústria litorânea é primordial. Apoio e fomento aos novos empreendimentos e suporte inovador aos existentes é a concepção a ser adotada para um projeto de industrialização, comércio e serviços, eficiente nas ações e eficaz nos resultados.

O sol não é o vilão, ele é o nosso irmão. É óbvia a potencialidade do semiárido para a geração de energia solar e, também, de energia eólica e da biomassa. O ecossistema é apropriado, também, para a implantação das atividades de turismo rural e de estações hidrotermais. De repente, vale trocar a praia por um banho de rio ou um jorro de água quente.

A crise é um intervalo entre o problema e a solução. No intervalo surge a oportunidade. Vamos avançar, cooperando, capacitando, comunicando, compromissando e confiando que no sertão está a oportunidade para a procurada solução.

*Paulo Cesar Bastos é Engenheiro civil pela Escola Politécnica da UFBa atuante em diversas áreas da engenharia e produtor rural de gado de corte na Bahia.

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